LEGALMENTE LOIRA: AS COMÉDIAS ROMÂNTICAS

 


O filme “Legalmente Loira" nasceu de um livro de mesmo nome, escrito por Amanda Brown, que fez certo sucesso nos EUA. O tema? Comédia romântica.

Apesar do constante declínio e da imensa desvalorização que o gênero sofre, a verdade é que as comédias românticas nasceram para serem ácidas, críticas e defensoras não do amor romântico, mas da autenticação e validação das pessoas na sociedade. Seja por incentivo pessoal ou pelo simples desejo de se provar.

No filme, Elle Woods tem a pretensão de seguir o caminho da moda, se especializar nesse tipo de marketing e seguir carreira pelos caminhos da alta costura. Mas ela também quer casar com seu namorado, o Warner, um filho de família rica que pretende entrar no ramo da política. Crente de que será pedida em casamento, Elle se prepara para o felizes para sempre, mas o que houve é que Warner quer uma Jackie Kennedy e não uma Marilyn Monroe.

Ofendida e frustrada, Elle toma a decisão mais ousada que poderia, focando apenas no seu futuro romântico: ela entra na faculdade de direito porque quer provar para Warner que é tão boa quanto as Jackies que ele acha que vai achar.

Há quem diga que Elle Woods é a personificação do vazio e que sua motivação nasceu gradualmente, mas será mesmo? A sua motivação era só o Warner? Elle mudou durante o filme por ele, ou porque entendeu algumas coisas sobre si mesma?

Hoje quero descrever todos os impactos que “Legalmente Loira" trouxe para as gerações recentes. Crianças nascidas nos anos 1990 foram as mais afetadas por essa história, mas não foram as únicas.

O NASCIMENTO DAS COMÉDIAS ROMÂNTICAS

Para uma comédia romântica nascer, precisamos de uma boa fórmula que funcione. E claro que você sabe disso. Toda boa história tem uma fórmula funcional, porque bons escritores escrevem com roteiros e fórmulas. Essa coisa de “a história vai surgindo” não é uma mentira, mas também não é uma verdade universal.

A questão com as comédias românticas é que a fórmula parece seguir o mesmo rumo sempre: mocinha + mocinho = felizes para sempre. Ou isso é o que o grande público vê.

Te desafio a fazer uma maratona de comédias românticas e dizer que nada ali ficou. Isso porque eu sei que vai ficar, nem que seja o contexto da sinopse do filme. E não porque somos todos românticos incuráveis disfarçados de insensíveis desacreditados do amor. Elas ficam em nós porque bons personagens estão ali. Porque comédias românticas não são sobre romances românticos - apesar de parecer isso. Comédias românticas são sobre pessoas de verdade.

Se você é um cara grandão de academia, um nerd isolado ou qualquer outro tipo de estereótipo masculino que esteja me faltando pensar agora, talvez a história da Elle não seja para você. Mas alguma outra vai ser, porque a função desse gênero é dialogar com públicos diversos para falar sobre enfrentamento de diferentes realidades e sentimentos.

As comédias românticas nascem da necessidade de alguém de conseguir algo por si mesmo. E mesmo que no caso da protagonista em questão esse algo fosse um cara, o que ela descobriu no final?

“E SE FOR?”

A Elle entrou na faculdade de direito para reconquistar o cara que ela amava, mas saiu de lá amando direito, consagrada como a primeira aluna de direito na história a vencer um caso no seu primeiro ano, foi oradora da turma e, eu assumo: ela arrumou um felizes para sempre. Mas não com o Warner, porque ele era só o seu caminho, não a sua parada final.

Uma frase que marca muito o filme todo surge do par romântico da Elle, quando ela está passando por um momento difícil da sua vida na faculdade e se queixa com ele, quase chorando, de como se sente patética e frágil naquele lugar. Direito não era o seu sonho e ela diz que aquilo tudo é demais para ela, porque ela não é aquilo. Então o homem que está completamente apaixonado por ela diz: “mas e se isso for você?”

Se as comédias românticas nascem de pessoas, para contar boas histórias sobre pessoas reais - mesmo que pareça só uma ficção e uma busca por amor romântico -, a fórmula que funciona é mostrar o “e se”. E todos nós temos milhares de possibilidades para o “e se”, mesmo que pensemos que não.

A protagonista descobrir que gosta de direito, que é mesmo uma mulher forte e competente, que ela é muito melhor do que a sua versão que achava que o amor era tudo… Tudo isso é apenas a ponta do iceberg. A verdade é que a história está tentando te dizer: “cadê o seu e se? E por que você não está correndo atrás da possibilidade agora?”

FINAIS FELIZES

E se você está pensando que tudo isso é conversa fiada e que esse gênero só foca em finais felizes, tenho uma péssima notícia: não é bem por aí. Porque, mesmo que eles sejam mesmo empenhados em nos dar um final feliz, comédias românticas não são versões mais maduras de contos de fadas. As comédias românticas nos dão finais felizes só pelo gosto de agradar um público que sofre no meio do caminho - seja pela demora no casal ficar junto ou porque tem muito mais coisas ali -, mas seu verdadeiro foco é te dar um tapa na cara. Só que com estilo.

No caso de “Legalmente Loira” o tal tapa vem em uma luva rosa cheia de brilho e com plumas no punho? Sim. Mas essa, com certeza, não é a questão.

A ideia principal desse tipo de filme é te explicar algumas coisas sobre si, te fazer questionar algumas decisões e buscar respostas sinceras em seu coração sobre o futuro. E por mais que esse papo pareça um clichê entediante e bobinho, a verdade é que a ideia é sempre te fazer refletir. E se você é um ser humano, sabe muito bem que todos os nossos demônios ficam escondidos dentro de nós, mas estão sempre prontos para saltar para fora. Isso quer dizer que, se todos nós temos problemas para enfrentar, todas as verdades precisam ser ditas.

Comédias românticas nos dão finais felizes porque a vida é cheia deles. E eu sei que você deve estar pensando que isso é um absurdo e que eu só estou puxando sardinha para o gênero. Mas a verdade é que todos nós vamos cruzar, pelo menos uma vez na vida, com um assassino na rua. E se você não foi o alvo dessa pessoa, bom, já temos um pequeno final feliz para a sua vida. Mesmo que seja só por um dia, mesmo que você nem saiba.

O papo bobinho, que terminou com essa explicação trágica, segue bem por aí mesmo. E não só em situações extremas como a morte trágica que inspira podcasts criminais e páginas do gênero na internet. Talvez seu final feliz seja conquistar o amor próprio que estava faltando, ou o não ter engravidado por mais um mês, ou ter conseguido aquele emprego que vai colocar comida no seu prato.

Sim, nós sempre vamos querer mais, porque a raça humana está tristemente fadada à frustração do ponto final, mas não podemos ficar felizes só por agora, com aquele pouco que, no fundo, para nós é muita coisa?

O gênero segue tentando nos ensinar isso, nos lembrar das nossas pequenas conquistas pessoais e do quanto elas valem. E “Legalmente Loira” é um dos melhores exemplos sobre isso. O filme realmente foca em dizer o quanto a Elle cresceu e amadureceu, e o quanto as coisas que parecem pequenas nas nossas vidas são realmente grandes. Mesmo que, na primeira olhada, só pareça um filme que quer nos enfiar mais amor romântico pela garganta.

♥ Olive Marie

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