DE SAÍDA: O DIAGNÓSTICO DE UMA GERAÇÃO

 




A evolução tecnológica surgiu para o estilo de vida humano ter melhoras significativas. O acesso fácil a qualquer tema, a possibilidade de gozar de vários sistemas práticos em um só e a agilidade para problemas que, nos sistema analógico, duraria dias. Pelo menos, essa foi a promessa inicial.


Com o avanço acelerado da tecnologia, descobrimos outros problemas sociais. Principalmente, os efeitos nocivos nos nossos cérebros e o aumento de doenças psicológicas. E a situação só piora…


Jout Jout já tinha nos avisado de tantas outras situações irreparáveis do emocional humano, e também foi uma das pioneiras em alertar, do seu próprio jeito, sobre a doença da internet. Mas aí fomos lá e a usamos como objeto de pesquisa.


KYLIE JENNER E O SURTO GERACIONAL


Kim Kardashian pode ter sido a primeira da família a alcançar a fama que as mantém até hoje no auge, mas não é a única da família que merece certo destaque pela audácia. E mesmo sendo a primeira pessoa a revirar os olhos para o estilo de vida que elas tentam vender, preciso assumir a proporção decadente do negócio todo…


Por mais que me doa e me faça agonizar, a verdade é que precisamos admitir que alguns fenômenos culturais das novas gerações só são possíveis por causa delas. E, talvez, o mais curioso tenha nascido com a caçula das Kardashian-Jenner.


A primeira vez que ouvi falar delas foi por uma amiga (que na época era muito próxima minha, mas hoje não falamos mais), que insistiu que eu deveria assistir ao reality delas. E isso foi pouco antes de Kendall se tornar uma modelo famosa e de Kylie virar um grande ícone fashion…


Na tentativa de agradar essa tal amiga, me arrisquei a assistir um episódio do reality. E a primeira cena que me lembro foi de uma das irmãs mais velhas se queixando porque Kylie não largava o celular. O surto geracional começava ali, ganhando o devido nome: vício.


ARRASTA PARA CIMA AS REDES SOCIAIS


Kylie Jenner foi viciada em redes sociais. Até onde eu sei, ela saía da escola mais cedo para participar das gravações do programa da família e para atualizar o Tumblr. Também escutei sobre ela ter tentado ser de tudo como artista, quase uma criança que quer ser uma veterinária-astronauta-palestrante. E enquanto ela tentava encontrar uma carreira artística para justificar para si mesma o seu sucesso na internet e na televisão, ela começou a ter sintomas depressivos.


Quer dizer, aquela minha tal amiga disse que ela se queixou, abertamente, de não sentir satisfação em comprar as coisas. Ela saia, comprava um monte de coisas para tapar algum vazio em si mesma, e aí deixava de querer o que tinha acabado de comprar. Verdade ou não, o fato é que, de uma hora para outra, ela sumiu.


Saindo do pedestal de ícone fashion para o anonimato do dia para a noite, Kylie Jenner descobriu que algumas coisas da vida precisam ser vividas em silêncio digital. E para ela, esse momento foi a gravidez.


Ao voltar para a mídia, ela era apenas uma empresária e uma mãe. Simples. E é bem distante da minha realidade a possibilidade de gostar dela nem que seja um pouco, mas tive que dar um crédito… Vi de perto o impacto que essa decisão teve na vida de pessoas anônimas. Foi nesse momento que muitas pessoas (assim como ela), fascinadas pelo exibicionismo das redes sociais, descobriram que nem tudo precisava ser vivido em manada.


Mais ou menos nessa mesma época, aqui no Brasil, uma figura tão relevante para a mídia quanto Kylie Jenner, sumia também. Jout Jout se afastava sem dizer adeus.


ADEUS E DESCULPA, PARA NUNCA MAIS


Ao sumir completamente das redes sociais depois de um gradativo afastamento, Jout Jout criava uma ideia coletiva de silêncio virtual que parecia não existir antes. Aterrorizante para muitos, mas feliz para outros.


O podcast “De saída” investigou o paradeiro de Jout Jout, a entrevistou e criou um depare sobre isso… Até psicólogo convidaram para debater sobre as redes sociais e seus sintomas nocivos para a mente humana. E surpreendendo um total de zero pessoas, todo mundo descobriu que a decisão de Jout Jout foi parecida com a de Kylie Jenner: ela precisava de paz.


Enquanto a caçula da família mais marketeira do mundo das celebridades se impunha um auto detox de redes sociais, mídia e a necessidade ser relevante o tempo todo, Jout Jout abria mão de forma definitiva do monstrinho digital que ela mesma criou. E isso não quer dizer que elas tenham pensamentos parecidos sobre o tema, ou que foram movidas exatamente pelo mesmo sentimento, mas ambas tiveram uma interpretação premonitória sobre a crise.


Kylie queria que sua gravidez fosse sossegada e que sua filha, inevitavelmente explorada pela mídia no futuro, aproveitasse pelo menos o ventre para ser anônima. Jout Jout queria voltar a ser Júlia, queria não ter que ficar neurótica com redes sociais e queria conexões de verdade, com pessoas de verdade.


Eis a causa, a doença e a vacina. O diagnóstico é pragmático. Somos todos zumbis digitais que quase não vivem no anonimato de nossos próprio círculos pessoais e bolhas sociais. E isso nos deixa completamente doentes e insanos. Mesmo que em graus menores do que os vistos em pacientes com diagnósticos realmente problemáticos.


Antes delas, o filme “Click” já previa a catástrofe humana de querer “pular” situações da vida, mesmo vivendo no completo anonimato. E, com o podcast, aprendemos uma coisa que havíamos esquecido: a vida continua.


Vamos continuar existindo se não tivermos mais internet. A vida está acontecendo ao nosso redor nesse exato momento. Inevitavelmente, estamos envelhecendo e ficando mais próximos de versões nossas que não podemos controlar. E conexões com pessoas não nascem para valer na internet. Amigos virtuais só se tornam amigos reais se nos esforçarmos para tirar aquela conversa de DM da tela e a passamos para o mundo real.


Mas mesmo com a receita para a vacina que é de escolha própria, será que conseguimos entender o peso da escolha de transitar entre o diagnóstico e a solução?


Olive Marie ♥