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FLEX X COP: A PARENTALIDADE DESCABIDA

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  Eu sou uma grande fã de k-dramas. Sou realmente apaixonada pelo fato de que, na Ásia, não ficou brega estar apaixonado. E digo isso porque eu amo comédias românticas, que é uma coisa que ficou obsoleta aqui no Ocidente. Em consequência disso, estou sempre assistindo novos k-dramas e c-dramas, estou sempre me apaixonando por personagens masculinos escritos por mulheres e improváveis no mundo real. Estou sempre lembrando a mim mesma o quanto é mil vezes mais divertido ver tudo isso pela televisão do que pessoalmente (casais apaixonados e melosos, gentileza manter distância dessa que vos escreve). A questão aqui é que sempre estou consumindo conteúdo de romances. Massivamente. Quase nunca assisto algo que não tenha um casal fofinho com tendências de acabarem juntos no final. E “Flex X Cop” foi uma feliz exceção recente. Na busca por um novo k-drama, um amigo querido me indicou esse, prometendo que eu me apaixonaria perdidamente pelo casal principal, em especial, porque era um casal real

HILDA HILST: LITERATURA COMO OFÍCIO

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  “Você não pode pensar em português. É bom pensar em inglês, em alemão… As pessoas aceitam. Em português você pensar, é uma coisa horrível. [...]” – Hilda Hilst Em janeiro de 2022 eu era voluntária em um site de cultura, e tive o prazer de escrever – do zero – uma matéria biográfica sobre Hilda Hilst. Escrevi sobre muitas mulheres por lá, na verdade… Mas jamais tive a chance de compartilhar sobre quando conheci cada uma dessas mulheres. E, de todas as boas histórias que tenho para contar, minha descoberta sobre Hilst é uma das mais peculiares. No dia do meu aniversário, em 2004, minha mãe fez questão de comemorar. Éramos apenas nós e mais duas pessoas, cortando um bolo de padaria, com algumas bonecas Barbie sobre a mesa. E enquanto comíamos o bolo, minha mãe ficou sabendo da morte de Hilda Hilst. A memória de como minha mãe soube se perdeu completamente. Não era algo que mudaria a rotina da nossa família, era apenas uma fofoca “local” e atrasada (Hilst já tinha falecido há alguns dias

GILMORE GIRLS: COMO FAMÍLIAS EXISTEM EM CICLOS

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  Quando eu era criança, “Gilmore Girls” passava na TV aberta aos fins de semana. Não sei exatamente o canal, não me lembro do horário, mas tenho memórias bem claras de escutar meu genitor dizer que quando eu crescesse, seria a Rory. Minha mãe já era parecida demais com a Lorelai (mais pelo jeito do que pelas situações), e essa virou nossa referência familiar. Nós éramos as garotas Gilmore. Sem nenhuma pressão, gradualmente fomos mesmo nos tornando Lorelai e Rory. Um pouco mais a cada dia… Minha mãe tomava cada vez mais café, eu lia ainda mais livros; ela se transformava ainda mais no esteio de toda uma família pessoal complicada, eu me tornava cada vez mais silenciosa e crítica. Foi sem perceber, mas aconteceu. Os episódios aos fins de semana na televisão aberta acabaram rápido. Desse modo os episódios não eram lineares, e mesmo lembrando remotamente do enredo geral, “Gilmore Girls” nunca foi nossa brincadeira pessoal. Até assistirmos toda a série, na primeira oportunidade que surgiu

GALATEA DAS ESFERAS: A FÓRMULA FEMININA DO SUCESSO

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  Não sei quando foi que eu conheci Dalí. Revisitei todos os meus diários da infância, mas não anotei a data exata, nem mesmo o ano. Não há menção de suas obras em meus diários, até eu ter quinze anos. O fato é que me lembro quando vi sua obra pela primeira vez. Sei que foi em uma aula de língua portuguesa, sobre interpretação de texto, antes de entrar no ginásio (ou seja, antes do que hoje chamam de 6º ano, e na época era 5ª série). Foi sua obra mais famosa que vi, em uma apostila, para ilustrar o trecho de sua vida que íamos interpretar. E a questão é que eu sei a razão de não ter mencionado Dalí em meus diários: não fui impactada por sua obra. “A Persistência da Memória” é uma ótima pintura, é profunda e tudo isso, mas eu não acho lá essas coisas… Porém, com quinze anos, tenho uma anotação sobre “Galatea das Esferas”. Isso porque foi a primeira vez que eu ouvi algo sobre Dalí ser casado, sobre ser um romântico . Foi a primeira vez também, que eu vi um pintor pintar uma esposa que te

ORGULHO E PRECONCEITO: A INVENÇÃO DA COMÉDIA ROMÂNTICA

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  “Orgulho e preconceito” pode não ter sido o primeiro livro a criar um romance delicado, complexo e bem estruturado, mas com certeza foi o mais marcante na história da literatura. Isso porque a literatura inglesa sempre foi muito prática. Dramática sim, mas também muito prática. Existe um meme sobre literatura que diz que na literatura francesa os personagens morrem por amor. Na literatura russa eles apenas aceitam que vão morrer. Na literatura estadunidense, personagens morrem pela liberdade. E na inglesa morrem por honra. E com o romance, na literatura, é assim também. Personagens de romances ingleses sofrem por honra, mantém seus amores por honra também. E Jane Austen soube ler essa característica de seu povo com uma perfeição visceral. Elizabeth está presa em seu orgulho ferido, sr. Darcy está ofendido com seu preconceito contra os Bennett. Ela também tem preconceito sobre seus pontos de vista em relação a ele, enquanto ele tem orgulho de sua condição e mente, e se agarra a isso