MONUMENT VALLEY 3: A CALMARIA APÓS O CAOS

 




Eu tenho depressão. Tenho ansiedade. Tenho TOC e fobia social. Sou silenciosa porque sou insegura e também sou insegura porque sou silenciosa. Sou a neta que mais sofreu por comentários sobre a aparência, a prima que mais foi feita de escrava e me tornei a filha “perfeita” para compensar várias dores. E nada disso é orgulho, mas uma explicação de como sou boa em criar calmarias pessoais dentro do meu caos particular.


“Monument Valley 3” é exatamente sobre isso.


A protagonista ganha a missão de “reconstruir” uma vila depois que o antigo farol parou de funcionar e os moradores se dispersaram. Enquanto cenários são recriados, moradores agrupados e a história se descortina, somos capazes de reavaliar a nós mesmos.


O CAOS DE EXISTIR


Apesar de ser um roteiro bem óbvio para esse tipo de jogo, há algo que parece mais inovador… Talvez seja a ideia de canalizar nossa atenção total ao caos ao redor, já que, do contrário, a história não funciona.


Depois que joguei, tive uma crise existencial. Seja patético ou não ter uma crise existencial durante um jogo, o fato é que levei para a terapia essa questão de ficar juntando os caquinhos de um caos que é parte de mim, mas não minha responsabilidade direta.


E a metáfora funcionou…


Assim como no jogo, o caos sempre precisa de calmaria, mas ele também existe sozinho. Às vezes não somos agentes do caos, mas temos que acalmá-lo mesmo assim. E a primeira pergunta que temos que nos fazer no processo de encontrar essa paz é: estou com o coração pronto para a calmaria?


Na maioria das vezes a resposta é não, e isso acontece porque alcançar paz também é um processo pessoal, e cada processo precisa de um tempo. Em especial, quando precisamos internalizar alguma informação e remoer aquilo até que uma solução seja achada. E tem momentos em que temos que admitir que não ter uma solução também é uma solução. Mas é necessário desacelerar primeiro e ouvir e enxergar com clareza.


O PROCESSO DE DESACELERAR


Faço parte de um clube do livro que foi montado com o único propósito de unir cinco amigas completamente opostas. A começar que a primeira reunião foi composta por uma amiga que conhecia todas, e de resto, éramos estranhas completas. E o que era uma chamada de vídeo de comemoração de um projeto e unia quatro estados do Brasil, terminou como um clube do livro peculiar.


Ganhei amigas. Mas também ganhei “gurus”. Todas elas me ensinam algo, e enquanto escrevo isso, converso com uma delas…


Acabei de dizer que dei uma desacelerada para observar as coincidências do existir, e fui impactada por: “Mas a vida tá sempre mandando recados que a gente precisa observar o sutil para entender”.


O caos precisa do sutil. Nós precisamos do caos. Estamos presos no existir e não notamos, mas desacelerar ajuda a calmaria.


Só que permitir tocar o sutil não diz que a calmaria chegou finalmente. Pelo contrário.


A CALMARIA DEPOIS DE TUDO


Depois de um dia em que a terapia me jogou uma pedra, minha amiga-guru-jovem senhora da zoeira me deu uma frase de impacto para o resto da vida e que tive uma pequena crise de raiva gerada pelo caos, voltei ao jogo 3, que fecha a trilogia de “Monument Valley” para tentar encontrar metáforas para todos os processos da calmaria.


O que achei foi a calmaria em si.


Uma calmaria peculiar de saber que o fim da história é sempre feliz. Independente do que esse feliz queira dizer. Porque no jogo, óbvio, é a resolução do problema, mas na vida as camadas são mais finas e quebradiças…


Quando todos estão vivos, alguém vai morrer primeiro. Quando a casa está limpa, a vida vai acontecer e a sujar de novo. Quando o trabalho está calmo, a ciência trará algo novo… Viver e escolher continuar vivendo é ter coragem e aceitar que só há calmaria por causa do caos. E que só há caos porque há calmaria.


O “depois de tudo” nunca é o fim.


Olive Marie ♥