MULHERES MAFIOSAS: COMO GAROTAS ROUBAM A CENA

 


“Mulheres mafiosas” foi um livro aleatório. Tanto de achado quanto de leitura. Isso porque, de forma despretensiosa, visitei uma livraria há alguns meses e esse livro estava lá, dando bobeira, por um valor que dificilmente achamos hoje em dia: vinte e quatro reais.


A compra foi uma decisão direta, quando eu vi o tema, obviamente quis comprar e não me perguntei se seria um investimento duvidoso no futuro. Claramente valia a pena…


Sou viciada em true crime. Ouço podcasts, assisto documentários e leio sobre casos criminais. Me dedico a ouvir e ler sobre meus casos preferidos quando fico curiosa sobre alguma informação que ainda não conhecia ou não lembrava. E Bonnie Parker é um tipo de permanente memória em mim.


Particularmente, não gosto muito do que ouço sobre Bonnie Parker como pessoa, mas tem algo em sua história – além de ter sido uma das figuras femininas mais famosas da bandidagem – que me cativa: Bonnie Parker era poeta.


O livro não é sobre Bonnie Parker. O máximo que temos é um capítulo sobre o casal Bonnie e Clyde. Mas tentar entender como a vida dessas mulheres acontecia na estrada, especialmente quando sabemos que Bonnie amava o estrelato que sonhava alcançar, me fascina e a compra acabou se revelando muito boa…


BONNIE E CLYDE NA FILA DO CRIME


Apesar da capa do livro trazer uma imagem icônica de Bonnie Parker, a história não é sobre ela. Na verdade, o livro em si é como um estudo jornalístico sobre as mulheres mais famosas do mundo do crime nas décadas de 1920, 1930 e 1940. Bonnie Parker é só uma pintinha no meio do oceano.


Pensamos em Bonnie e Clyde, quando pensamos em crimes de casais, porque foram eles que mais ficaram famosos. E isso só aconteceu porque eles eram muito jovens e imprevisíveis, e estavam apaixonados. Bonnie deixou poemas da época que esteve com Clyde no crime, e por suas fotos e sua paixão pela mídia – além da morte trágica que tiveram –, Bonnie parecia tão perigosa quanto Clyde. Mas não era.


Nesse livro, conhecemos mais de algumas das “damas do crime” mais famosas das primeiras décadas do século XX. Mulheres pintadas por uma mídia e por uma equipe policial que pregava que elas eram vilãs perigosas. Mulheres que amaram os homens errados e pagaram por isso. Algumas tendo que ver seus amores morrerem. Outras sendo mortas com eles.


Assumir que Bonnie e Clyde não fizeram muito no mundo do crime (ao contrário do que o imaginário coletivo gosta de sugerir) é o primeiro passo para entender o recado principal: elas não eram fatais. Seus parceiros eram. Essas mulheres eram, apesar de companheiras amadas, motoristas de fuga e pessoas que recarregavam as armas de seus respectivos homens. De perigosas, verdadeiramente, não tinham nada.


QUEM OS FEDERAIS PEGAM PRIMEIRO


Helen Gillis e “Billie” Frechette foram provas de que, por mais que parecessem perigosas, as mulheres que andavam com ladrões de bancos (ou de mercearias, como era o caso de Bonnie Parker) eram as primeiras a serem pegas.


Mesmo que anúncios de procuradas fossem distribuídos, mesmo que seus homens as amassem e mesmo que a mídia insistisse em dizer que eram tão perigosas quanto os homens, o “machismo” ainda vigorava dentro das pequenas gangues. Eram os homens quem davam as últimas palavras e, surpreendendo um total de zero pessoas, eram eles que fugiam na primeira oportunidade e as deixavam para trás.


Apesar de a fama de Bonnie e Clyde ter pregado uma ideia coletiva de que as mulheres que partiam em missões criminosas com seus parceiros eram respeitadas, Clyde era uma das poucas exceções de seus iguais. Muitos dos nomes famosos daquela época eram violentos e agressivos com suas parceiras, esperavam respeito e lealdade, mas as abandonavam, espancavam e substituam com facilidade. Mas também, o que se esperar de homens que andavam armados por diversão? Não dá para pensar boas coisas, e se feminicídio e agressão doméstica já é alto hoje, imagine naquele tempo. Nesse contexto em especial.


O livro, de um modo geral, tem o intuito de contar essas histórias, falar sobre como esses criminosos foram pegos e mortos, e como suas esposas e companheiras reagiam a isso. A maioria, em resumo, ficava devastada.


A HISTÓRIA DO FEMININO


Depois de ler “Mulheres mafiosas” entendi e reforcei ideias que já tinha sobre esses casos: as mulheres roubam a cena. E apenas isso, geralmente.


Como o feminino é esperado dentro de um contexto de delicadeza e domesticidade, o imaginário coletivo cresceu de forma interessante ao redor de mulheres que abriram mão dessa ilusão da perfeição e pureza feminina e doméstica pela adrenalina e pela insegurança de estar nas estradas, roubando e presenciando assassinatos e grande golpes. E como se a gente já não soubesse: o feminino oscila entre o perfeito e o sujo.


Pensar na ideia dessas mulheres vivendo e amando as pessoas que queriam, e lutando por eles independente de quem eram, nos reconta uma história conhecida até os dias de hoje. Nós, como mulheres, somos devastadas pelos homens.


Em contextos românticos – e esse vai ser o foco aqui –, somos sempre julgadas como vilãs. Se nos juntamos aos homens errados, a sociedade sempre vai achar que estávamos lá porque éramos piores do que eles. Porque somos nós as “cheias de sortilégios”. É uma ideia estúpida, claro, mas o mundo não parece entender essa parte…


Ao ler esse livro reforcei meu pensamento claro de que a história do feminino, muito provavelmente, nunca vai mudar. O mundo não é gentil conosco, e além de vilãs, temos que entender que se nos apaixonamos pelo cara errado, pagar pelos crimes e erros dele é apenas o começo. Nós vamos largar tudo e correr o risco de sermos mesmo pessoas estúpidas. Estar apaixonada, sendo mulher, é uma armadilha inevitável de autodestruição.


♥ Olive Marie

Postagens mais visitadas deste blog

SRTA. AUSTEN: AS MULHERES POR TRÁS DE LENDAS

GALATEA DAS ESFERAS: A FÓRMULA FEMININA DO SUCESSO

AS DUAS FRIDAS: A ARTE SOBRE MULHERES