MARINA TSVETÁIEVA - PARTE 1: O DOM DE CONTAR HISTÓRIAS TRISTES

 




Marina Tsvetáieva viveu para sentir que sua vida tinha sido em vão. Escreveu com a alma, e ao decidir morrer, se viu isolada em sua própria obra. E sua partida deixou mais do que seus escritos.


Tsvetáieva deixou mais do que escreveu. Tsvetáieva deixou para trás dor, agonia, medo e sofrimento.


Foi mãe, esposa e refugiada. Foi amiga adorada e foi uma escritora de sorte, dentro de um tempo de azar. Viu a Rússia tsarista se tornar União Soviética, mas não viveu para ver a queda do exército vermelho. E de tudo isso, Marina Tsvetáieva foi uma muralha, que ainda estamos tentando decifrar ao todo.


E mesmo parecendo ter escrito um epitáfio longo demais, hoje te convido a conhecer a vida de uma das principais poetas russas do século XX.


TODA POETA NASCE IGUAL


Nascida em 8 de outubro de 1892, Marina era filha de uma pianista polonesa e de um filósofo e historiador da arte, e sua infância soa como abastada quando a pesquisamos, mas parece mais intelectual do que saudável…


Ainda na infância, Marina se mostrou um prodígio, ao se destacar no piano e na escrita. Com o pai sendo um dos fundadores do atual Museu Pushkin e a mãe tendo falecido de tuberculose quando Marina estava na adolescência, sua relação com a arte e com a melancolia pessoal se agravou, e ao partir para a França (aos 16 anos), decidiu que estudaria a poesia da Europa Ocidental – com foco em estrutura literária francesa e alemã.


Antes mesmo dos 18 anos, Marina Tsvetáieva já tinha publicado seu primeiro livro de poemas, intitulado “Álbum da tarde” e começava a ganhar espaço na sua terra natal, com seu estilo particular. Foi essa obra que conquistou Moscou, ao ser apresentada ao círculo intelectual da cidade pelo poeta Maksimilián Voloshin, que o divulgou depois de receber um exemplar da própria Tsvetáieva.


ONDE NASCEM AMORES E MORREM CARREIRAS


Com apenas 19 anos e uma carreira promissora que crescia na Rússia, Marina Tsvetáieva conheceu e se apaixonou por Sergei Efron, que se destacava na sociedade pela sua família – e até então, por nada mais. E em 1912, aos 20 anos, o casal se casou e Marina lançou sua segunda coletânea de poesia.


Em 1912, Marina também começava um novo momento de sua vida: a maternidade. A primeira filha do casal nasceu neste ano, quase na porta das mudanças que estavam começando a crescer… Com a chegada da Revolução Russa e da Primeira Guerra Mundial, Sergei partiu para o Exército Branco, em 1917, e Tsvetáieva ficou sozinha com as filhas, Ariadna (agora com 5 anos) e Irina (recém-nascida).


Sem conseguir publicar um compilado de sua obra em 1918, 1919 chegou para Marina Tsvetáieva com sucesso na carreira, com a publicação de duas peças e fragmentos do seu diário. Mas 1920 não seria um bom ano, porque apesar do fim da Revolução Russa, Irina faleceu por desnutrição.


Apenas em 1921 que Tsvetáieva descobriu que o marido ainda estava vivo, e partiu para a Europa Ocidental para encontrá-lo, ao lado da filha Ariadna, em 1922. Depois de passar por Berlim e Praga, em meses tão vertiginosos quanto os últimos anos antes da partida da Rússia, a família decide criar raízes na Tchecoslováquia, que foi onde Tsvetáieva conseguiu publicar mais quatro de seus trabalhos.


É EM PARIS QUE SE ESCONDEM OS ARTISTAS


Marina Tsvetáieva seguiu criando e publicando em periódicos russos, que eram publicados em Praga e em Paris. E foi nesse momento que escreveu “Poema sem fim”, seu trabalho mais famoso e considerado o melhor de sua carreira.


Com o espaço como autora de periódicos crescendo, a família Efron se mudou para Paris em 1925. Com o nascimento do filho, Gueorgui – e carinhosamente apelidado de Mur –, Marina Tsvetáieva só estava começando a alcançar as principais dificuldades de sua vida… Em Paris, viviam na miséria e suportaram 13 anos da insatisfação e hostilidade dos conterrâneos contra Tsvetáieva. Inconformada com a situação que seu país se encontrava na época, o povo russo (então cidadãos da União Soviética) desprezavam e ridicularizavam o trabalho e a opinião da artista.


Enfrentando a miséria e a hostilidade, a carreira de Tsvetáieva continuava a crescer em Moscou. Suas obras eram copiadas à mão e passadas e recitadas em noites literárias por seus fãs. Até 1932, Marina Tsvetáieva ainda produzia obras de destaque à distância da Rússia, e como todas as esposas de seu tempo: não fazia ideia do que o marido fazia às escondidas…


* todas as informações sobre Marina Tsvetáieva encontradas nesse texto vieram de biografias e fontes virtuais, sem um ponto específico de referência. a parte 2 será publicada na semana que vem. *


Olive Marie ♥