DE REPENTE 30: A IDADE DO SUCESSO
Ficar mais velha é uma dádiva, mas a sociedade considera uma traição e uma audácia feminina passar dos 30 anos – especialmente se tem amor próprio. A televisão para de se interessar por corpos femininos com mais de 25 anos, as músicas endeusam corpos de 19 e a medicina nos lembra de todas aquelas complicações que não queremos ouvir. O papo do relógio biológico cansa.
Ainda assim, o filme “De repente 30” nos deu uma coisa que ninguém tinha dado antes: possibilidades.
Com a chegada dos anos 2000, os 40 anos se tornaram os novos 30 e os 30 se tornaram a idade do sucesso feminino. Levando em conta que as mulheres ainda recebem menos que os homens, enquanto se esforçam mais e por mais tempo, é justo que os 30 sejam os novos 20 para nós, e que tenhamos a chance e curtir os 30 com sinceridade, paixão e leveza.
30, 40 E 50 (E FIM)
O novo filme da Demi Moore, “A substância”, tem levantado debates sobre a idade feminina e seus impactos na sociedade. E apesar de ainda não ter assistido ao filme, sei onde esse debate começa e onde termina, e acho de um bom gosto fenomenal a escolha de Demi Moore para um papel tão provocativo.
E é provocativo porque, apesar de todos os nossos avanços em debates feministas, raciais e inclusivos, o etarismo ainda está atrofiado. Deslocar a Demi Moore, que mostrava o corpo em “Striptease” e se apresentava como a queridinha dos romances em “Ghost”, para um mulher 50+ que se indigna com o etarismo midiático e sucumbe a procedimentos estéticos invasivos e tóxicos é complicado.
É uma crítica muito bem-vinda. Em especial porque é uma crítica que já veio de Jane Fonda e Meryl Streep. Se não me engano, até o tom da piada sobre o etarismo vem no mesmo ritmo, apesar de um pouco mais sombrio nesse contexto.
O fim feminino não está nos 50, e é injusto que seja visto dessa forma. O fim só chega com a morte, mas essa não é uma realidade que todos estão prontos para enfrentar. A mulher começa a morrer aos 30 anos.
A IDADE DO SUCESSO
Se não me engano, teve uma atriz de Hollywood que criticou “De repente 30” por ser o único filme de viagem no tempo feito para garotas. Parece que o que incomoda é que esse é um filme de romance e não uma aventura; e até aqui eu meio que concordo com a crítica.
É desconcertante que um filme sobre viagem no tempo, que tem como foco o público feminino, seja sobre uma mulher encontrando o amor. Mas também é desconcertante que sejamos capazes de ver “De repente 30” apenas por essa ótica.
Quando a Jenna se reinventa e passa a criar temas para o seu trabalho por uma métrica mais focada nos seus valores infantis, uma lição é capaz de ser encarada: as mulheres renascem aos 30. E agora, há um passo dessa idade, fico ainda mais satisfeita com a veracidade desse ponto do filme.
Assumi para mim, desde a primeira vez que assisti ao filme, que os 30 anos seriam a minha idade do sucesso. Apesar de ter muito orgulho da mulher que sou hoje, 30 anos é uma idade que estou ansiosa para viver. Afinal, as mulheres de 30 parecem brilhar. E é, independente de qualquer coisa, a idade que realmente conquistamos muito do que desejamos ser aos 20 anos.
O QUE PODEMOS SER
Os 30 são o ponto de ignição do que os jovens de hoje chamam de “adulto premium”. Isso porque, aos 30 anos, a adolescência e a transição para a fase adulta já passaram. É óbvio que não temos todas as respostas – porque ninguém tem mesmo –, mas já levamos tantos tapas da vida que simplesmente descobrimos como queremos encarar as coisas com mais facilidade.
Mas é com 30 que também descobrimos um superpoder exclusivamente feminino: a indiferença social acoplada na nossa personalidade.
Já que os 30 anos são o início da nossa morte social e os 50 nosso prazo de validade final, descobrimos que podemos ser muito mais do que já fomos ao longo dos 20. E entre um paralelo de Jenna (“De repente 30”) e Elisabeth (“A substância”) temos uma infinidade de versões que podemos ser. Em especial, porque o etarismo vai continuar sendo uma questão a ser debatida. E as questões femininas demoram mais para serem conversadas e resolvidas, e a longo prazo, não são resolvidas de fato.
Mas fica em aberto o espaço para termos por onde começar essa conversa.
Olive Marie ♥