CLUBE DOS CINCO: QUEM FALA COM ADOLESCENTES

 




Lembro da primeira vez na vida em que assisti “Clube dos cinco”. Como uma apaixonada por comédias românticas – e também como uma pessoa jovem demais na época –, foquei apenas na construção da relação Claire e Bender.


Foi com o tempo que aprendi sobre todas as problemáticas do roteiro, mas entendo a importância dessas questões. O comportamento de cada personagem ( por mais absurdo que seja) é um reflexo de sua classe social e valores familiares.


Só que não para por aí! O impacto do filme continua repercutindo hoje, mesmo em obras que em nada tem a ver com o trabalho de John Hughes. E isso porque “Clube dos cinco” se tornou um clássico.


5 INFRATORES, UMA BIBLIOTECA E O CAOS


Lançado em 1985, “Clube dos cinco” passou a figurar uma nova categoria cinematográfica extremamente nova naquele tempo: filmes adolescentes. Afinal, antes de John Hughes, não existiam filmes adolescentes.


Protagonistas jovens eram interpretados por elencos adultos e tinham temas maduros para suas idades. Foi por volta dos primeiros anos de 1980 que narrativas jovens começaram a surgir, com elencos realmente adolescentes e histórias que falavam sobre as inseguranças dessa fase da vida.


“Gatinhas e gatões”, “A garota de rosa-shocking”, “O primeiro ano do resto de nossas vidas” e “O rei da paquera” foram filmes que conquistaram o público, mas foram gradualmente esquecidos. “Curtindo a vida adoidado” e “Clube dos cinco” foram diferentes.


Ambos foram dirigidos por John Hughes e foram responsáveis por elevar os dramas escolares que começavam a surgir. E “Clube dos cinco” foi ainda mais genial, já que focou em trancar cinco tipos de jovens bem diferentes, por 8 horas, em uma biblioteca. E isso gerou o caos.


“PODE NOS VER DO JEITO QUE O SENHOR QUISER”


Com a redação que Brian faz para o professor que os tinha deixado de castigo na biblioteca, toda uma geração se rebelava. Os adultos poderiam os ver como quisessem, os rótulos seriam aceitos de bom grado, porque não os afetava de verdade.


Quando Andrew assume seu papel de atleta, Bender de criminoso, Brian de nerd, Claire de princesinha e Alisson de caso perdido, finalmente eles trocam de lugar. E o que mais comove é que os cinco são clichês emocionais e sociais de toda uma geração. E mais curioso ainda que todos sejam papeis que continuam se repetindo até hoje no cinema.


Mas, é óbvio, ninguém vai conseguir superar a maestria com que já foram mesclados uma vez.


O CLUBE DO CAFÉ DA MANHÃ


John Hughes, pelo que li uma vez, tinha o plano de fazer sequências do filme a cada 10 anos. Sendo verdade ou não, e independente do que o desmotivou a seguir esse plano, só consigo ficar feliz de não ter acontecido isso.


“Clube dos cinco” é uma obra que funciona bem sozinha, e isso acontece porque é um roteiro feito para debater os papeis sociais e as consequências de classes sociais para adolescentes. E esse não foi o intuito de John Hughes, mas acabou que foi exatamente isso que aconteceu. E essa é a melhor parte da história.


O momento mais icônico do filme, quando Bender ergue o punho para o céu, comemorando sua conquista, na quadra vazia e com a arquibancada ao fundo, marca mais do que um momento incomparável em termos de fotografia cinematográfica. É como se o momento assinalasse a conquista da liberdade de pensamento e o conhecimento de sua própria importância.


E enquanto nos contava essa história, abria espaço para que as próximas décadas se beneficiassem de jovens contando suas versões da história. A visão sobre a adolescência também começa, ali, a se moldar. Sem “Clube dos cinco”, que foi jovem depois, não teria suas próprias referências jovens para existir no mundo caótico em que vivemos.


Olive Marie ♥