WISLAWA SZYMBORSKA: A METAFORA DOS PALCOS
Não me lembro como descobri Wislawa Szymborska, mas sei que me apaixonei por um poema dela que diz: “Não sei o papel que desempenho. // Só sei que é meu, impermutável.”
Também não sei o nome do poema, nem a continuação dele de cabeça, mas sei que essa parte me marcou o bastante para sabê-la de cór. Decorei também o nome da autora, mas quase não se acha a obra dela facilmente nas livrarias e por isso ela sempre fica para depois nas leituras.
Para além de Wislawa Szymborska como autora, sua vida pessoal também é inevitável de se olhar por uma ótica mais ampla.
ANTES DAS METÁFORAS COMEÇAREM
Nascida em uma pequena vila chamada Bnin, na Polônia, em 2 de julho de 1923, Wislawa Szymborska não passou muito mais do que sua primeira infância na cidade natal. Por volta dos seus 8 anos de idade, toda a família se mudou para Cracóvia.
Com a invasão alemã na Polônia em setembro de 1939 – e consequentemente o início da Segunda Guerra Mundial –, os direitos do povo polonês foram retirados e Szymborska teve que seguir com seus estudos de forma clandestina. Surpreendentemente, foi justamente seu estudo que a salvou da morte prematura em campos de concentração.
Foi seu grau de escolaridade que a fez conseguir um emprego como escriturária numa ferrovia. O trabalho a manteve longe da deportação por toda a Segunda Guerra, mantendo intacta sua vida e possibilitando o fim dos estudos básicos.
O QUE VEM NO MEIO DO CAMINHO
Assim que a Segunda Guerra chegou ao fim, em 1945, Wislawa Szymborska decidiu dar continuidade na vida acadêmica e se inscreveu para cursar Línguas e Literatura Polonesa, na Universidade Jaguelônica de Cracóvia. Não encontrando o que buscava no curso, Szymborska mudou seu foco no estudo para Sociologia, mas saiu da faculdade em 1948 por problemas financeiros.
Mesmo estando na parte ocidental da Polônia, Szymborska era uma comunista convicta na época, e foi ainda em 1948 que publicou seu primeiro poema. Com influência do realismo socialista, suas obras eram publicadas em jornais diários.
Como muitos de sua época, foi uma stalinista ferrenha, foi filiada ao Partido Comunista e usava seu trabalho para panfletar seus valores. Mas em 1957, depois de se desiludir com os conceitos stalinistas, usou o seu livro de poemas “Chamado por Yeti”, para reforçar seu rompimento com o partido. Na obra, criticava de maneira enfática o comportamento de Stalin.
AO PALCO, WISLAWA SZYMBORSKA
A partir da década de 1960, Szymborska fez diversos trabalhos que, gradualmente, a levaram a ter uma coluna na revista “Crítica Literária”. Sua coluna, chamada “Leituras Não-Obrigatórias”, eram um reflexo de arte até então, e durou entre 1968 até 1981.
Além de crítica literária, poeta, ilustradora e ex-secretária de revista de educação, seu currículo também tinha a tarefa de tradutora. E apesar de ser uma boa tradutora, seu trabalho ficou preso na Europa por falta de tradução do polaco para outras línguas.
Szymborska gostava da vida discreta que levava e apreciava seu quase anonimato. Sua obra antecessora à “Chamado do Yeti” foi renegada por ela própria, e ainda assim, a academia de Prêmio Nobel considerou o poder completo de sua obra, e em 1996, ela ganhou o Prêmio Nobel de Literatura.
O desastre de ser jogada na mídia, inclusive na mídia internacional, fez sua vitória ser chamada de “Tragédia do Nobel”, já que a exposição a jogou em um bloqueio criativo longo e angustiante.
Em 1º de fevereiro de 2012, aos 89 anos, Szymborska faleceu, deixando para trás um rastro de obras inteligentes e cheias de referências a palcos e metáforas espirituosas e melancólicas sobre a vida.
Olive Marie ♥