MARIA ANTONIETA: UM LADO DA HISTÓRIA

 




Que a Mariana não me ouça de onde estiver, mas a verdade é que eu não gosto da Maria Antonieta.


Por questões completamente aleatórias e pessoais, não gosto da Maria Antonieta. E, ao afirmar isso, estou abrindo mão da parte obviamente trágica da sua história. Meu ponto sobre é mais político do que outra coisa… Mas tem algo nela que sempre vou defender: sua aflição materna.


Acho asquerosa a atitude de assassinar figuras políticas, independente se elas são uma figura de ameaça para o novo governo. E eu me recuso a ouvir aulas de história não solicitadas sobre a total aniquilação de governantes depostos são recados de aviso para os oponentes. Eu sei de tudo isso. Não sou obtusa.


Mas o assassinato de crianças jamais vai me permitir concordar com a “justiça” da causa. E toda ação de troca violenta de poder leva à desumanização da mulher estrangeira e a tortura e ao assassinato de crianças.


EIS ENTÃO, UMA COPPOLA


Apesar do meu ranço por Maria Antonieta, tenho que admitir que o filme “Maria Antonieta” é maravilhoso. É, talvez, uma das provas de que nem todo nepo baby é um desperdício de dinheiro em Hollywood.


Foi Sofia Coppola quem me convenceu de que Maria Antonieta era mais do que uma herdeira austríaca mimada e fadada à morte precoce justamente por sua impertinência elitizada. Meu professor de geografia até colocou um recado no trabalho que fiz sobre o filme e sua veracidade diante da geopolítica da época… A pergunta dele era clara: “Seria Sofia Coppola a única capaz de fazer Maria Antonieta parecer menos intragável porque, tal como ela, também é herdeira de um reinado?”


Acredito que sim, meu caro professor. E como acredito.


Ninguém mais falaria de Maria Antonieta com tanta classe e objetividade. Mesmo porque, Sofia Coppola fez a história quase se tornar um romance trágico clássico dos anos 2000. Não houve omissão sobre a conduta errática de Maria Antonieta como rainha. Mas houve justiça necessária sobre o fato de que ela era uma mulher que nunca precisou amadurecer e por isso se permitiu ser alguém que agia como uma adolescente mimada, irresponsável e inconsequente. Mesmo que já fosse uma adulta próxima da maturidade emocional e social.


Sem Coppola, Maria Antonieta seria sempre a figura da moda, mas ora no papel de puta e ora no papel de santa. Dependendo do ponto de vista político e social.


E NO LUGAR DE MÃE, COMO FICA?


Toda vez que os filhos dela aparecem em cena, o papel de mãe lhe cai bem. E, surpreendentemente, ao que indicam os dados históricos: Maria Antonieta realmente era uma boa mãe. Claro, dentro dos seus padrões de vida, status social e relevância pública, ela conseguiu se destacar um pouco como boa mãe. Era preocupada com os filhos e ficou legitimamente ofendida quando surgiram boatos de que ela teria molestado o próprio filho.


No livro “A queda da monarquia francesa”, de Munro Price, versões mais humanitárias da última rainha da França surgem. Menos açucaradas do que a versão de Coppola, mas igualmente favoráveis a sua posição como mãe. E olha que estamos falando da mulher que só não escapou dos revolucionários porque queria uma carruagem maior e uma comitiva durante a fuga…


O que mais me encanta no filme é que Coppola teve esse cuidado. Respeitar Maria Antonieta como mãe e como mulher é o básico para começar a entender o que o povo fez contra ela na época da Revolução.


Mesmo que a maternidade não seja central, está ali a pequena memória de que ela era, para além de esposa do governante, alguém a ser vista. Uma mulher. Um ser humano, e como tal, uma consequência de todas as suas versões.


SINÔNIMO DE FUTILIDADES


Infelizmente, a parte de sua vida que a tornou popular foi sua forte ligação com a moda. E como uma consequência da herança deixada pelo Rei Sol (Luís XIV) e sua corte opulenta, Maria Antonieta foi responsável por firmar o ditado: “última moda na França”.


Foi justamente sua opulência desmedida que associou seu nome a futilidades. Enquanto era o Rei Sol quem começava a construir Versalhes e lançava modas, foi Maria Antonieta quem chamou a atenção do povo para si por essa razão. A moda passou a ser algo feminino, e também a ser algo fútil.


Ali, muito provavelmente, nascia a compreensão social de que tudo referente ao universo feminino é um reflexo de futilidades e exageros. Os mesmo planos e atos, se executados por um homem, já eram vistos como sinônimo de poder, personalidade forte e elegância.


A exibição de moda do filme retoca a crítica a essa questão da história. E foi o figurino o que fez o filme se tornar um ícone de moda e uma memória afetiva importante para meninas coquetes dos anos 2000.


Sofia Coppola fez tudo isso com graça, transformando Maria Antonieta em um ícone pop. Ela nos deu um novo lado da história. Um lado que fazia mais sentido com as narrativas femininas que aprendemos a parar de demonizar.


Olive Marie ♥